segunda-feira, 23 de abril de 2018

A paciência no caminhar espiritual



   O texto de hoje é um breve depoimento de uma filha de Oxum, que iniciou sua caminhada no terreiro Águas da Cachoeira de Oxum há um ano e meio.
Essa é uma escrita intuitiva, em que busco contar um pouco da minha caminhada no terreiro, e que talvez possa inspirar àqueles que desejam iniciar a sua busca espiritual enquanto médiuns.
   Buscar o espiritual nem sempre é algo fácil, cômodo ou rápido. Comigo começou com a sensação de não pertencer a lugar nenhum e sempre estar em busca de algo que preenchesse minha alma por completo... Eu buscava algo em que as dúvidas não tivessem espaço. Na primeira vez em que pisei no terreiro, me senti assim: estranhamente completa. Com um misto de sensações que meu coração, meu corpo e a minha mente não explicavam. A minha racionalidade não explicava e isso me incomodou. Afinal, por que eu me sentia assim? Os pontos cantados mexiam comigo. Os conselhos e abraços dos guias mais ainda e determinadas linhas me remetiam à um espaço-tempo que eu desconhecia. As sensações físicas eram muitas. Parece que algo em mim que estava parado há muito tempo, tinha sido mexido e enfim, isso foi a melhor coisa que já poderia ter me acontecido!
   Claro que não compreendi isso da noite para o dia, pois a caminhada de um médium não é linear, e como meu pai de santo Rafael Almeida me disse esses dias: "Muitas vezes caímos, para subirmos depois". E comigo não foi diferente. Tive algumas descidas nesse tempo, me fizeram levantar.
No início da minha caminhada, ainda na assistência, eu ainda não compreendia que meu lugar era lá dentro junto deles, vestindo o branco, assumindo o compromisso de estar lá nos fins de semana, cambonando os guias, intuindo, e mais tarde incorporando. Relutei muito em aceitar que pela primeira vez me encontrava em uma religião e estava feliz com isso.
   A descoberta da mediunidade foi e tem sido um processo maravilhoso, porém difícil algumas vezes e totalmente gradual. Tenho em mente que entender isso é o ponto fundamental para conseguir ter um bom desenvolvimento mediúnico. Tudo dentro do desenvolvimento é gradual. Todos nós somos médiuns e temos algum grau de alguma mediunidade que deve ser ou não trabalhada, porém a chave de tudo é a paciência. Não ouvi isso só de um guia espiritual, mas de muitos.
   É comum termos uma inclinação natural em querer que tudo aconteça, mas na caminhada espiritual isso pode atrapalhar. Quando nos tornamos médiuns de corrente, passamos a compreender que tudo tem sua hora, e que cada energia deve ser trabalhada conforme o necessário e que definitivamente nada acontece por acaso. Todos nós temos o nosso próprio tempo, nossa própria missão e ancestralidade. E quanto mais ansiosos ficamos, mais colocamos o nós, ao invés de dar passagem aos guias para que eles trabalhem o melhor de nós.
   Por exemplo, meu desenvolvimento se iniciou pela linha da esquerda, com pombagira. O que me fez pensar que isso nunca mudaria. E mudou completamente. Por um bom tempo não trabalhei a linha da esquerda, e passei a sentir muito mais a linha dos caboclos. Com o tempo descobri que a cabocla que trabalha comigo é minha frenteira, e que só quando ela estivesse firme, os outros guias viriam naturalmente. Descobri sobre minha ancestralidade, e que minhas intuições eram reais e que tudo o que penso, estudo ou sinto tem ligação com a cabocla, e com meus outros guias. E que tudo, de certa forma, tem a ver com minhas outras vidas. Por ter uma ligação muito forte com a linha dos ciganos, que vem de outras vidas, pensei que meu desenvolvimento seria iniciado por eles e que seria algo até "mais fácil". Apesar de sentir e conhecer algumas coisas da cigana que trabalha comigo, eu entendi que ela virá no tempo que tiver que vir, e não no meu tempo. E que isso não necessariamente será fácil ou difícil, mas que tudo dependerá da minha maturidade para lidar com algo que mexe tanto com minha ancestralidade. E foi assim com outras linhas também, principalmente com esquerda.Toda gira é uma nova descoberta, porém aprendi a ter paciência. Gradualmente voltei a trabalhar a linha da esquerda, e as coisas foram acontecendo sem eu esperar. Talvez aí esteja o segredo, não esperar. E apenas focar em sua caminhada. Apenas estar ali de corpo e alma, dando o seu melhor e no momento certo o que tiver que acontecer, acontecerá de acordo com a sua missão.
   Tem tantas outras histórias... porém tudo isso só me faz chegar a uma conclusão: A Umbanda é linda. Aprendi nesse tempo que descobrir sobre os orixás e os guias é descobrir sobre nós mesmos e sobre nossa ancestralidade. Como disse ao meu pai de santo, o meu desenvolvimento mediúnico é um quebra-cabeças. Na verdade todos são. E conforme nós vamos encontrando as peças e montando, muitas coisas em nossas vidas fazem sentido e conhecer os nossos guias, coisa que no começo parece algo tão crucial, acaba se tornando um processo natural. Eu só estou conseguindo encontrar minhas peças e montar o quebra-cabeças da minha história e jornada mediúnica, aprendendo a ter paciência. Hoje eu olho para trás e percebo o quanto eu mudei enquanto pessoa e também enquanto médium e não posso deixar de expressar gratidão à Mãe Anice, ao Pai Rafael e ao terreiro que me acolheu e está me ensinando a crescer.
Mãe Anice sempre diz que nós precisamos nos conhecer, e buscar a nossa própria felicidade, para que possamos aprender a caminhar.
Pois então que façamos dessa busca interior um caminho de conhecimento consciente, saudável e acima de tudo com o objetivo de nos tornarmos melhores a cada dia.

Axé!

Isabel